Incenso - A suave magia da fumaça perfumada Você sabe quando surgiu o incenso? De que é feito? Que ele era um dos produtos mais cobiçados da antiguidade? Fabíola Musarra conta aqui curiosidades sobre o incenso, explica como identificar os de boa qualidade e ensina que, em excesso, sua fumaça faz tanto mal quanto um cigarro.
Por Fabíola Musarra
OS HINDUS SÃO OS "pais" dos primeiros incensos aromatizados e, na Índia, até hoje eles são levados bem a sério. Inicialmente, sua produção era feita à base de produtos naturais nativos, como sementes, ervas, raízes, flores e madeiras. Eram queimados em rituais públicos ou nas casas, na adoração de deuses e na cremação dos mortos.
Ainda agora, nos cultos budistas, o incenso é muito usado em cerimônias de iniciação de monges e faz parte dos rituais diários nos mosteiros. Posteriormente, o costume se espalhou por outros países da Ásia, como a China, Mongólia e o Japão. Neste continente, sua propagação está relacionada à difusão do budismo.0
Independentemente disso, há quem jure que o verdadeiro motivo de o incenso ter sobrevivido ao longo dos milênios e de ainda hoje fazer tanto sucesso deve-se à sua forte ligação com o elemento ar (simbolizada pela fumaça) e ao seu marcante apelo olfativo (o olfato tem contato direto com o processamento de emoções e com a memória), ingredientes que sempre exerceram fascínio na humanidade.
Mas é exatamente em função disso que se deve redobrar a atenção quanto à escolha do incenso. "Um produto de má qualidade é como um perfume barato", diz Mohamad Ali Chain, proprietário da Empresa Nova Era, mais conhecida por SAC, nome fantasia da importadora e distribuidora de incensos da Índia no País (www.sacincensos.com).
Diante da quantidade de marcas oferecidas pelo mercado, ele ensina como identificar um bom produto. "O incenso deve ser feito com materiais nobres. Sua composição deve incluir pó de sândalo branco, uma substância produzida na Índia", diz.
Ali Chain explica que é o sândalo branco que proporciona a sensação de bem-estar quando o incenso é queimado. Observa que uma pesquisa realizada há uns anos constatou que essa substância tem aroma semelhante ao que a mãe libera após o parto, que acalma o bebê. "O cheiro é imperceptível, mas propicia bem-estar", assegura.
Outros ingredientes fundamentais são a vareta, a cola e a essência, que devem ser de boa qualidade. No caso dos distribuídos pela SAC, as varetas são de bambu tratado, enquanto a goma é a Jigat. Já as essências são criadas a partir de aromas naturais.
O SÂNDALO BRANCO tem aroma parecido ao que a mãe libera após o parto
O consumidor deve observar os ingredientes do incenso na embalagem, na qual também deve constar o registro da Anvisa, órgão de Vigilância Sanitária, do Ministério da Saúde."
Todas essas precauções resultam em benefícios para o consumidor. Ali Chain conta que um incenso de qualidade libera uma fumaça branca, quase transparente, que exala um aroma suave e não satura o ambiente. Já os demais têm perfume forte e enjoativo, que fica impregnado no ar. Sua fumaça é escura e não se espalha bem no local. "Esse tipo de incenso expulsa a pessoa do ambiente, pois provoca dor de cabeça", finaliza o empresário.
Embora aparentemente inofensivo, o incenso pode fazer tanto mal para os pulmões e bexiga quanto o cigarro, a poluição atmosférica e o gás carbônico dos escapamentos dos carros. Sua fumaça libera gases tóxicos que podem causar o câncer nesses órgãos. É o que asseguram três diferentes pesquisas sobre o tema. Na primeira, publicada na revista European Respiratory Journal, os cientistas explicam que quando alguém acende uma vela ou defuma a casa, na realidade, está impregnando o ambiente com os hidrocarbonetos aromáticos e partículas poluentes sólidas, substâncias causadoras de câncer de pulmão e de bexiga. "Esse risco aumenta em ambientes fechados e com muita fumaça, como o interior dos templos budistas e católicos", alerta o texto.
Por sua vez, o estudo dos cientistas da Universidade Nacional Cheng Kung (Taiwan), veiculado na revista New Scientist, mostrou que num templo budista mal ventilado de Taiwan os níveis encontrados da substância cancerígena provenientes da queima de incensos eram 45 vezes superiores aos encontrados em casas de fumantes e até 19 vezes maiores do que o existente no lado de fora do templo, além de ser superior ao das amostras colhidas em um movimentado cruzamento da cidade.
"A possibilidade de se desenvolver câncer pela inalação da fumaça produzida pela queima de incenso depende do nível de hidrocarbonetos policíclicos liberados por ele e pelo tempo de exposição ao produto", endossa Brad Timms, da Campanha de Pesquisa do Câncer, na Grã-Bretanha.
Os pesquisadores da Universidade de Maastricht (Holanda) também chegaram a essa conclusão. Eles analisaram a concentração de partículas poluentes sólidas no ar de uma capela e de uma basílica em Maastricht e comprovaram que o ar de ambas continha vários tipos de moléculas reativas que fazem mal ao pulmão, causando ou agravando as reações inflamatórias e doenças respiratórias, como asma ou bronquite. "Os padres e as pessoas que trabalham dentro de igrejas são os maiores prejudicados, embora os fiéis que ali permaneçam por muitas horas diárias também possam ser afetados", advertem os cientistas.
Recentemente, pesquisadores ingleses identificaram, por técnicas específicas, os ácidos a e b-boswélico e os seus derivados em amostras de incenso que datam aproximadamente de 400 a 500 d.C. e que foram coletadas durante escavações na adega de uma casa, na região fronteiriça a Qasr Ibrim, no extremo sul do Egito. Como as espécies de Boswellia não são típicas dessa região (nascem principalmente no norte da Somália e no sul da Península Arábica), a resina encontrada possivelmente foi importada de cidades localizadas no Médio Nilo.
Por falar em importação, as rotas de comércio utilizadas pelas antigas civilizações foram uma das principais responsáveis pela popularização do produto nos países que integravam o mapa do Velho Mundo.
Exemplos: o principal período de comércio do produto foi o greco-romano, quando o incenso era transportado por navios vindos do sul da Arábia e provavelmente em caravanas por terra. Já no fim do império romano, o incenso chegou vindo da África via Mar Vermelho.
Lendas e histórias à parte, o incenso foi utilizado por diferentes povos e com variados fins ao longo dos séculos. A maioria dos povos orientais, por exemplo, queimava incenso em honra de suas divindades.
Por sua vez, os primeiros cristãos o empregavam para purificar o ar dos lugares subterrâneos onde se escondiam para celebrar suas cerimônias religiosas. Durante o feudalismo, o senhor feudal era incensado nas cerimônias como ainda hoje o são os eclesiásticos no altar das igrejas. Esse ato era conhecido como o "direito de incenso".
2 comentários:
http://www.terra.com.br/revistaplaneta/////////edicoes/420/artigo59514-3.htm
Incenso - A suave magia da fumaça perfumada
Você sabe quando surgiu o incenso? De que é feito? Que ele era um dos produtos mais cobiçados da antiguidade? Fabíola Musarra conta aqui curiosidades sobre o incenso, explica como identificar os de boa qualidade e ensina que, em excesso, sua fumaça faz tanto mal quanto um cigarro.
Por Fabíola Musarra
OS HINDUS SÃO OS "pais" dos primeiros incensos aromatizados e, na Índia, até hoje eles são levados bem a sério. Inicialmente, sua produção era feita à base de produtos naturais nativos, como sementes, ervas, raízes, flores e madeiras. Eram queimados em rituais públicos ou nas casas, na adoração de deuses e na cremação dos mortos.
Ainda agora, nos cultos budistas, o incenso é muito usado em cerimônias de iniciação de monges e faz parte dos rituais diários nos mosteiros. Posteriormente, o costume se espalhou por outros países da Ásia, como a China, Mongólia e o Japão. Neste continente, sua propagação está relacionada à difusão do budismo.0
Independentemente disso, há quem jure que o verdadeiro motivo de o incenso ter sobrevivido ao longo dos milênios e de ainda hoje fazer tanto sucesso deve-se à sua forte ligação com o elemento ar (simbolizada pela fumaça) e ao seu marcante apelo olfativo (o olfato tem contato direto com o processamento de emoções e com a memória), ingredientes que sempre exerceram fascínio na humanidade.
Mas é exatamente em função disso que se deve redobrar a atenção quanto à escolha do incenso. "Um produto de má qualidade é como um perfume barato", diz Mohamad Ali Chain, proprietário da Empresa Nova Era, mais conhecida por SAC, nome fantasia da importadora e distribuidora de incensos da Índia no País (www.sacincensos.com).
Diante da quantidade de marcas oferecidas pelo mercado, ele ensina como identificar um bom produto. "O incenso deve ser feito com materiais nobres. Sua composição deve incluir pó de sândalo branco, uma substância produzida na Índia", diz.
Ali Chain explica que é o sândalo branco que proporciona a sensação de bem-estar quando o incenso é queimado. Observa que uma pesquisa realizada há uns anos constatou que essa substância tem aroma semelhante ao que a mãe libera após o parto, que acalma o bebê. "O cheiro é imperceptível, mas propicia bem-estar", assegura.
Outros ingredientes fundamentais são a vareta, a cola e a essência, que devem ser de boa qualidade. No caso dos distribuídos pela SAC, as varetas são de bambu tratado, enquanto a goma é a Jigat. Já as essências são criadas a partir de aromas naturais.
O SÂNDALO BRANCO tem aroma parecido ao que a mãe libera após o parto
O consumidor deve observar os ingredientes do incenso na embalagem, na qual também deve constar o registro da Anvisa, órgão de Vigilância Sanitária, do Ministério da Saúde."
Todas essas precauções resultam em benefícios para o consumidor. Ali Chain conta que um incenso de qualidade libera uma fumaça branca, quase transparente, que exala um aroma suave e não satura o ambiente. Já os demais têm perfume forte e enjoativo, que fica impregnado no ar. Sua fumaça é escura e não se espalha bem no local. "Esse tipo de incenso expulsa a pessoa do ambiente, pois provoca dor de cabeça", finaliza o empresário.
O MAIS NOVO VILÃO
Embora aparentemente inofensivo, o incenso pode fazer tanto mal para os pulmões e bexiga quanto o cigarro, a poluição atmosférica e o gás carbônico dos escapamentos dos carros. Sua fumaça libera gases tóxicos que podem causar o câncer nesses órgãos. É o que asseguram três diferentes pesquisas sobre o tema. Na primeira, publicada na revista European Respiratory Journal, os cientistas explicam que quando alguém acende uma vela ou defuma a casa, na realidade, está impregnando o ambiente com os hidrocarbonetos aromáticos e partículas poluentes sólidas, substâncias causadoras de câncer de pulmão e de bexiga. "Esse risco aumenta em ambientes fechados e com muita fumaça, como o interior dos templos budistas e católicos", alerta o texto.
Por sua vez, o estudo dos cientistas da Universidade Nacional Cheng Kung (Taiwan), veiculado na revista New Scientist, mostrou que num templo budista mal ventilado de Taiwan os níveis encontrados da substância cancerígena provenientes da queima de incensos eram 45 vezes superiores aos encontrados em casas de fumantes e até 19 vezes maiores do que o existente no lado de fora do templo, além de ser superior ao das amostras colhidas em um movimentado cruzamento da cidade.
"A possibilidade de se desenvolver câncer pela inalação da fumaça produzida pela queima de incenso depende do nível de hidrocarbonetos policíclicos liberados por ele e pelo tempo de exposição ao produto", endossa Brad Timms, da Campanha de Pesquisa do Câncer, na Grã-Bretanha.
Os pesquisadores da Universidade de Maastricht (Holanda) também chegaram a essa conclusão. Eles analisaram a concentração de partículas poluentes sólidas no ar de uma capela e de uma basílica em Maastricht e comprovaram que o ar de ambas continha vários tipos de moléculas reativas que fazem mal ao pulmão, causando ou agravando as reações inflamatórias e doenças respiratórias, como asma ou bronquite. "Os padres e as pessoas que trabalham dentro de igrejas são os maiores prejudicados, embora os fiéis que ali permaneçam por muitas horas diárias também possam ser afetados", advertem os cientistas.
Recentemente, pesquisadores ingleses identificaram, por técnicas específicas, os ácidos a e b-boswélico e os seus derivados em amostras de incenso que datam aproximadamente de 400 a 500 d.C. e que foram coletadas durante escavações na adega de uma casa, na região fronteiriça a Qasr Ibrim, no extremo sul do Egito. Como as espécies de Boswellia não são típicas dessa região (nascem principalmente no norte da Somália e no sul da Península Arábica), a resina encontrada possivelmente foi importada de cidades localizadas no Médio Nilo.
Por falar em importação, as rotas de comércio utilizadas pelas antigas civilizações foram uma das principais responsáveis pela popularização do produto nos países que integravam o mapa do Velho Mundo.
Exemplos: o principal período de comércio do produto foi o greco-romano, quando o incenso era transportado por navios vindos do sul da Arábia e provavelmente em caravanas por terra. Já no fim do império romano, o incenso chegou vindo da África via Mar Vermelho.
Lendas e histórias à parte, o incenso foi utilizado por diferentes povos e com variados fins ao longo dos séculos. A maioria dos povos orientais, por exemplo, queimava incenso em honra de suas divindades.
Por sua vez, os primeiros cristãos o empregavam para purificar o ar dos lugares subterrâneos onde se escondiam para celebrar suas cerimônias religiosas. Durante o feudalismo, o senhor feudal era incensado nas cerimônias como ainda hoje o são os eclesiásticos no altar das igrejas. Esse ato era conhecido como o "direito de incenso".
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